De onde vieram os votos que elegeram Daniel Silveira?
Deputado federal aguarda decisão do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados para saber se vai perder o mandato ou não.
Ex-policial Militar do Rio de Janeiro e atual deputado federal preso, Daniel Silveira (PSL) construiu sua curta carreira política em cima do apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de discursos e bandeiras como a maior militarização da sociedade e por ter quebrado uma placa em homenagem a vereadora Marielle Franco, assassinada junto com o motorista Anderson Gomes, em março de 2018, durante a campanha eleitoral daquele mesmo ano. Campanha esta que levou Silveira ao cargo de deputado. Mas quem elegeu o parlamentar que se tornou um dos principais assuntos do noticiário político nacional nos últimos dias?
Natural de Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, Silveira serviu no Batalhão da Polícia Militar do município e cursou o bacharelado em Direito na Universidade Estácio de Sá local. Por esta razão, com boa parte de sua vida construída na cidade, pode-se dizer que Petrópolis foi o grande impulsionador do seu sucesso eleitoral. Foram 21.501 votos petropolitanos, número que representou mais de 66% dos votos recebidos, do total de 31.789 votos, que o elegeram em 2018.
Em Petrópolis, Daniel obtive 10% dos votos, considerando a quantidade de eleitores aptos a votar, na 65º Zona Eleitoral e 8% dos votos na 29ª. Os bairros que compõe a 65ª Z.E são mais afastados do Centro, como Corrêas, Nogueira e os Distrito de Itaipava e Pedro do Rio.
Já a 29ª Z.E agrega os bairros mais próximos ao Centro da cidade, como o próprio Centro, além de Quitandinha e Valparaíso. Daniel teve, no geral, uma larga votação em todo o município, chegando a alcançar 14,79% dos votos válidos na cidade.
Todavia, não só de Petrópolis vieram os votos para Daniel Silveira. Conforme aponta o mapa abaixo, elaborado pelo Instituto Rio 21, a participação da Região Serrana – além de Petrópolis – foi determinante para a sua vitória. Silveira foi o 12º candidato a deputado federal mais votado de Areal, com 1,45% dos votos locais; o 11º mais votado de São José do Vale do Rio Preto, com 1,32% dos votos na cidade, por exemplo.
Apesar desta participação na Região Serrana ser especialmente relevante para a sua votação, Daniel Silveira também foi muito bem votado na capital. No total, foram 4.618 votos na cidade do Rio de Janeiro. Ele teve, a título de comparação, mais votos na cidade do que o ex-vereador Jimmy Pereira (4.228 votos) e figuras de força no cenário político fluminense, como Simão Sessim (4.119 votos), ex-deputado federal pelo Rio e ex-Prefeito de Nilópolis, e Dica (3.916 votos), ex-deputado estadual com cinco mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, a ALERJ.
Considerando as 5 Zonas Eleitoras na capital que Daniel Silveira teve o maior número de votos, todas estão na Zona Oeste da cidade, nos bairros de Bangu, Realengo, Padre Miguel, Campo Grande, Senador Camará, Santíssimo e Inhoaíba (Zonas 238, 233, 234, 245 e 122). Nessas Zonas, especificamente, o Presidente Jair Bolsonaro alcançou mais de 73% no segundo turno contra Fernando Haddad (PT) – enquanto os dados gerais da cidade deram a vitória a Bolsonaro por 66,35%.
As Zonas Eleitorais localizadas na Zona Oeste receberam 2219 votos, seguidas pelas da Zona Norte com 1826. As regiões Sul e Central do Rio de Janeiro tiveram uma menor participação na eleição de Daniel Silveira.
“A excepcionalidade da eleição de 2018, com a eleição de políticos ligados ao discurso bolsonarista, certamente contribuiu sobremaneira para a eleição de Daniel Silveira. Em sua primeira eleição, a campanha eleitoral com um discurso inflamado e a participação em polêmicas como a quebra da placa com o nome de Marielle Franco, vereadora assassinada na cidade do Rio, contribuíram para a sua aparição no cenário político-eleitoral. Os dados apontam que, evidentemente, a cidade de Petrópolis foi fundamental para a sua eleição, mas não é possível deixar de mencionar os mais de 4.600 recebidos na capital fluminense. Sem esses votos, inclusive, Daniel não teria tido êxito eleitoral , já que foi o deputado eleito do PSL menos votado no estado do Rio de Janeiro”, analisaPhilippe Guedon, diretor de pesquisa do Instituto Rio21.
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados abriu nesta terça-feira, 23/02, o processo para decidir se Daniel Silveira cometeu quebra de decoro parlamentar ao divulgar vídeo na internet defendendo o AI-5 — o instrumento jurídico mais duro da ditadura militar — e a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal, o que é inconstitucional.